segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Arte/Mercadoria

Vou falar desse assunto aqui porque no post sobre números eu disse que faria isso. É um tema muito discutido e polêmico, que vagueia como um fantasma o inconsciente de críticos de arte e artistas durante quase um século. É uma característica (condição) que influencia, até demais, no trabalho do artista, em geral.
Primeiro é preciso lembrar que numa sociedade capitalista o normal é que tudo se transforme em mercadoria. Na arte essa condição de mercadoria surge com os impressionistas, que rompem com o mercado elitizado das religiões e do estado, e produzem com liberdade, independente, para um mercado avaliado pela lei da oferta e da procura. A partir daí surge com a arte moderna os dilemas que acompanham o artista até hoje: até onde é possível tratar arte como mercadoria? A arte sobrevive sem ser tratada como mercadoria? A arte deve continuar uma mercadoria sofisticada para um público elitizado ou uma mercadoria popular?
Seja como for tratada, a arte necessita de reconhecimento e qualidade pra entrar em qualquer mercado. E no capitalismo o sucesso está diretamente ligado a sua cotação. Picasso disse que o sucesso servia para lhe vender quadros, e Van Gogh, que só vendeu um quadro em vida, sonhava com a arte para todos. Ambos procuravam pelo alívio de produzir e vender sem a pressão de ser um produtor de artigos de luxo para uma determinada elite. Nos dias de hoje existem vários caminhos para o sucesso (para valorização da arte/mercadoria), uns bem curtos e outros longos. Alguns até dispensam o talento do artista e a qualidade da obra, os instantâneos. E outros são necessários determinação e paciência. Em todos os caminhos é fundamental uma visão comercial definida. A valorização comercial vira um comprometimento para o artista contemporâneo.
O conflito da arte só como expressão e da arte como mercadoria é refletido na produção artística das chamadas instalações e obras conceituais. A negação do suporte (quadro), que é mercantilizado na sociedade capitalista, é a negação da mercadoria na busca pela expressão sem suporte material, inconscientemente, a busca pela arte que não pode ser vendida, catalogada, nem reproduzida. Mas eu pergunto: De que vai sobreviver esse artista? Dos prêmios dos salões e das bienais? É pedir arrego novamente para o estado, depois da arte ter conseguido se libertar dele há 100 anos.
Para não se perder dentre tantos caminhos, a produção artística tem que valorizar a originalidade, adaptar técnicas visando produtividade e revelar uma linguagem verdadeira, coerente. Assim será possível, ao artista e ao consumidor, estabelecer a relação arte/mercadoria com a consciência tranquila, de quem está realizando um bom negócio.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...